13 junho 2007

Como estão os quadrinhos nacionais?



Vi e li alguns lançamentos recentes de quadrinhos, como Avenida, Quadrinhópole, Tarja Preta, Jukebox, Ragú, Alienz... Existem ainda Gorjeta, Cão, Garagem Hermética, e outros que eu só tive a oportunidade de conhecer pelo nome. Está claro que estes títulos têm em comum o fato de serem publicações independentes nacionais. Alguns, como Ragú, parecem já ter alcançado maturidade gráfica e uma linha editorial definida. Outros, como a paranaense Quadrinhópole, ainda tateiam em um terreno obscuro, carecendo de rumo, que certamente virá, se a revista não acabar antes da hora.
Fato é que todas estas publicações - e mais inúmeras pelo país adentro - fazem parte de um movimento não-declarado, silencioso e crescente, que impera no mercado de quadrinhos. Trata-se do movimento independente, alternativa ao restrito mercado comercial de quadrinhos, por assim dizer, que vive de certezas e prefere não apostar no novo, no alternativo ou no que sai dos padrões tradicionais. Esta preferência pela tradição é, até certo ponto, perfeitamente compreensível quando estamos falando de grandes empresas, cujos chefes prestam contas a chefes maiores ainda. Não dá para arriscar.

Mas também não dá para fechar os olhos para esta interessante novidade, este mar de quadrinhos nacionais que passaram a inundar sites e blogs dedicados ao gênero. Basta olhar o site do Universo HQ, por exemplo: todo dia tem uma ou duas notícias referentes ao quadrinho nacional, o novo quadrinho nacional, este que é independente e que caminha às margens do profissionalismo.

O quê? Às margens? Quer dizer que este não é um quadrinho profissional?

Fato é que os níveis de profissionalismo são tão variáveis quanto a qualidade das revistas - repare que em momento algum usei a nomenclatura “fanzine”, porque nada do que foi citado se enquadra nas características de um. São revistas, cuja qualidade gráfica, e especialmente cujos conteúdos, são bastante diferentes uns dos outros. Não se trata de um gênero, e sim de um segmento.

E como estas revistas sobrevivem, sendo independentes? Como bancar uma tiragem de mil, dois mil exemplares, cuja distribuição mambembe vai render pouco ou nada? Algumas atacam de lei de incentivo. Outras se atêm a um, dois ou três bravos patrocinadores locais. Outras, ainda, vão no peito e na raça mesmo. A continuidade, ou não, do título, vai depender de uma série de fatores, e nenhum está diretamente relacionado às vendas. Uma revista - qualquer revista - só venderá bem se tiver uma agressiva estratégia de publicidade, algo que nenhuma das citadas é capaz de fazer. Por isso, a sobrevivência se dá por outros meios - afinidade de um patrocinador, uma boa defesa do projeto junto às comissões de lei de incentivo, ou mesmo um mecenato pessoal (o famoso “pago para publicar”). Nenhuma destas alternativas é ideal, porém...

Acho extremamente saudável toda esta proliferação de revistas em quadrinhos nacionais. É necessário, entretanto, que elas cheguem às livrarias, às comics shops, aos pontos de venda. O busílis é justamente este: colocar a revista à venda. Não adianta sabermos que a revista existe apenas através dos sites de HQ. É preciso conviver com elas: chegar a uma livraria e encontrar o novo número de uma revista independente. Com tantos editores plenos de vitalidade e boa vontade por aí, seria interessante pensar numa grande rede de distribuição alternativa, uma espécie de mapeamento - tal rede até já funciona, eu sei, mas de forma desorganizada e cartesiana. O processo é lento - quem trabalha com quadrinhos há mais de dez anos como eu sabe bem disso - mas o futuro me parece bem promissor. Assim se forma um mercado - pelo menos é uma boa teoria.

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