17 setembro 2012

Graffiti 23 na livraria HQ Mix

Lançamento da Graffiti #23 em São Paulo é neste sábado 22/09 na Livraria HQ Mix, rua Tinhorão, 124 - Pacaembu - SP, a partir das 19:30 h.



28 agosto 2012

Lançamento 23: a ultima graffiti

A ultima edição da graffiti será lançada em BH no dia 6 de Setembro, a partir das 21 h no CCCP ao som dos DJ Malafa, Rafael, Rogermoore e Daniel.

17 maio 2012

Graffiti na Bienal do livro

A Graffiti vai estar presente na Bienal do Livro de Minas Gerais, no estande dos independentes, junto à FMC. O evento começa amanhã, 18 de maio, no Expominas e vai até dia 27.
Mais informações aqui.


23 março 2012

As melhores hq da graffiti: joão tomba velha

Esta história de Quinho foi publicada originalmente em 2000, na graffiti 7 - edição especial T.R.E.I.N. A revista foi concebida como um trem, no qual cada história constituía um vagão. No primeiro quadro da segunda página aparecem dois personagens de outras histórias-vagões: o protagonista do 'último vagão' de Melado e o trocador de Paulo Barbosa. O próprio fantasma de Tomba Velha irá aparecer na história seguinte...




15 março 2012

As melhores hq da graffiti: a menina dos fosforos

Adaptação do clássico conto de H. C. Andersen por Fabiano, para Graffiti 15, de 2006.







05 março 2012

5 anos de 100% quadrinhos

Nesta terça feira, 06/03, a partir das 19h. no bar e café Arcângelo, autores da coleção 100% quadrinhos comemoram os 5 anos da série. Pensada como uma forma de promover a profissionalização e a inserção no mercado de autores brasileiros publicados pela Graffiti, a coleção tem tido o mérito de apresentar o primeiro álbum produzido por cada um dos autores envolvidos: Fabiano Barroso e Piero Bagnariol, Eloar Guazzelli, Luciano Irrthum, Guga Schultze e Evandro Alves.
No som, DJ Rafael...

03 março 2012

As melhores hq da graffiti: Willy Bomb

Direto da Graffiti zero, um grande clássico da revista: A breve história de Willy Bomb, por Haidée Frota e Daniel Monteiro.






24 fevereiro 2012

Alves na Quixote sábado 3/3

Lançamento do álbum A rua de lá, de Alves, em Belo Horizonte será so próximo sábado, dia 3 de março, a partir das 11h na livraria Quixote, na savassi.

16 fevereiro 2012

Verdades Tropicais, de Alves


Verdades Tropicais foi a primeira hq produzida por Alves expressamente para a Graffiti, na qual o autor apresenta este estilo peculiar, 'linha clara', diferente de sua produção regular como cartunista.  A história saiu na número 13 'metamorfose'.






31 janeiro 2012

A rua de lá

Ali pela metade da década de 90 – século passado – existia, no bairro Carlos Prates, um estúdio de produção, fomento e troca de ideias sobre histórias em quadrinhos. Este local, que chamávamos Estúdio HQ, era mantido por nós, da Graffiti, e por mais um punhado de quadrinistas de Belo Horizonte.

Certo dia, em uma manhã escura e tempestuosa de sábado, apareceram no estúdio dois jovens cartunistas vindos de Lagoa Santa. Queriam mostrar o trabalho, conversar, participar da desorganizada efervescência que promovíamos por aqueles tempos. Um destes cartunistas era o Alves.

Alves nos mostrou sua pasta de desenhos. Não lembro de tudo o que tinha nela, mas me recordo com nitidez das tiras do Gronk, ainda inéditas, e que posteriormente seriam publicadas em jornais de BH, além de outras tiras com animais, que denotavam sua admiração pelo tema e uma certa influência – saudável – do Níquel Náusea do Fernando Gonsáles.

E recordo, sobretudo, daquilo que realmente me chamou a atenção, desde o princípio, nos cartuns e desenhos do Alves: o humor! O trabalho dele – que, como eu, como nós, era um iniciante – tinha algo difícil de obter, algo que não se ensina da noite para o dia. Era engraçado. Fazia rir! E aí eu olhava pros desenhos, e olhava pro Alves, ali, sentado, meio desconfiado, matuto, aguardando um parecer qualquer sobre suas artes, eu fazia isso e ria muito, ria por dentro e por fora, gargalhava mesmo. O humor puro, que é universal e atemporal, faz isso com o espírito. E eu, que nunca fui profeta, naquele momento desvendei o futuro do Alves. Em meio àquela profusão de gente que era o Estúdio HQ, havia pessoas com talento e pessoas sem talento, mas ninguém seria tão bom cartunista quanto o Alves. Há ofícios que são pura técnica. Dentre eles, não se enquadra o cartum. No cartum, há sim técnica, mas os 90% principais são feitos de algo que não se explica, que costumamos chamar de dom, ou de centelha, mas que na verdade pode se dizer que é uma mistura correta de timing, bom senso e humor. Como num bom coquetel, tudo na medida certíssima.

O tempo passou, a jovem promessa se tornou um premiado e conhecido autor. Várias histórias do Alves já foram publicadas na Graffiti, na Mad e em outras revistas. Seus cartuns, ilustrações e charges saíram em alguns dos principais periódicos do país. Sem contar os diversos e importantes prêmios - do Salão de Piracicaba ao de Volta Redonda, passando pelo do Rio de Janeiro, de Foz do Iguaçu e outros mais. Mas faltava em seu currículo algo como este A rua de lá – uma história em quadrinhos longa, onde o autor pudesse experimentar e expressar muitas outras

de suas virtudes, para além do humor – que, se há nesta história, há apenas no traço, cômico por natureza – , como a sua herança literária e as sensibilidade para com suas recordações.

Sim, porque A rua de lá é autobiográfico. Fala de uma época em que as coisas não eram para ponderar. Fala também de um lugar, uma cidadezinha, que é a cidade do Alves, Lagoa Santa, mas é também todas as cidades do interior do Brasil. Porque o Brasil tem a infância de todo mundo, esse período da vida que é da brincadeira, da descoberta, do monstro, do superheroi, dos bichos, da mãe, da amizade e da solidão. Essa época maravilhosa que nos molda e nos torna inevitavelmente adultos.
Tudo isso – e muito mais – é filtrado pelos olhos do Alves, da criança que foi o Alves, e que está aí, retratada de forma honesta e singela, nesta pequena obra que tenho o orgulho de apresentar e que, espero, você tenha o mesmo prazer que eu tive ao ler e apreciar.
Portanto, não me resta que desejar boa leitura!

Da introdução de Fabiano Barroso

17 janeiro 2012

As melhores hq da graffiti: Flexman Newgate

Estreiamos hoje uma seleção das 'melhores histórias em quadrinhos da graffiti'. Distãncias, de Flexman Newgate, foi publicada na graffiti 12, edição dedicada a rua. A história é um exemplo da veia experimental da revista em sua busca de diálogo entre quadrinhos e outras linguagens...








04 janeiro 2012

Consciência vai em poucas pessoas

O cavalo pindurado, o rumo da Lua e outras não-histórias de seu Thiago Ramos
de graffiti 8, 2001
Seu Thiago Ramos é um homem forte. Um daqueles tantos heróis do dia-a-dia que estão espalhados pelo Brasil afora, anônimos, e que guardam histórias (ou não-histórias) de uma sabedoria construída de vida e sofrimento. Como tantos outros, esse homem não busca as verdades nos livros, nas escolas, pois não sabe ler e nem escrever. Guarda, porém, uma verdade interior e uma grandeza ética com a mesma força com que segura a enxada para lavrar a terra.

O LUGAR
Eu vim de Maria da Cruz. Fica à beira do Rio São Francisco, pra cá de Januária. Januária fica pelo lado de lá e Maria da Cruz pelo lado de cá. É um municípi, tem otcho anos que foi municipado. Num nasci num foi mesmo lá não, foi pra cá um pouco, no municípi de Brasília de Minas. Fui pra lá minino, com sete, ôtcho anos e o que posso dizê é que nasci e fui criado lá. Lá que eu registrei, lá que ‘cabei de criá lá nesse lugá. Agora eu morava cá no exteriô, na roça e tinha a cidade lá. Depois que fiquei velho e num tava ‘guentando mais sustentá a jornada, fui ‘mbora lá pra cidade. 
Criei essa família lá. Meu pai morreu e eu fiquei com a idade de ôtcho pra dez anos, lá eu criei essa família de mâe que foi meu pai que deixô, nóis era sete irmão. Quando eu já tava com vinte e trêis anos, que eu tinha ajudado mãe a criá os pequenos, aí eu fui, resolvi casá. Formei ôtra família, lá nesse mesmo lugar, eu casei e criei quinze filhos lá e esses quinze filhos, só morreu um. Os outros tudo lá, fiz o registro, tá tudo em casa, posso mostrá o lugar aonde eu moro.
Eu sinto muito que num pude estudá porque eu já nasci de família pobre. Meus pais, os meus avô num estudô, ninguem estudô. Nasci naquele tempo, em 33. Pensa pra você vê, uma pessoa que nasceu em 1933... foi lá, foi índio que nasceu dentro do mato, num tinha discussão não, eu ainda sô desse lugar, eu nasci lá. O Brasil foi descoberto que tinha índio, tinha habitante aquele Brasil, eu num sei se é verdade porque eu num estudei, num sei se é verdade. Mas eles fala que tinha era índio, ‘nton o Brasil num era inteiramente sem inteligência, tinha índio. Aí esses índio, donde é que veio esses índios? Já tinha habitante, já tinha gente. Já tinha brasileiro aqui, índio brasileiro. Pedro Cabral disse: Eu descobri o Brasil! Pode tê descoberto pra explorá, mas pra vivê? Que naquele tempo que num tinha descoberto talvez era até melhor... Que Deus andava nesse lugar olhando tudo, Deus dava todo conforto e nóis hoje com essa pobreza. Entendeu o meu dizê? Depois que foi muito descoberto, descobriu muita coisa pro povo vir, querendo avançá demais, ganhá demais. Pra você vê bem.
Nesse lugar que eu morava, que é aonde é esse municípi de Maria da Cruz, ia de barco pra Januária. E tinha o barco que era a vapor. (Conhece o vapor? Vapor.) Tinha um vapor que transportava as coisas da Bahia, lá de Son Salvador, esse mundo aí pra baixo que eu num conheço que também nunca fui, vinha transportando, vinha o vapor e ia ate Pirapora. O vapor vinha de lá e foi construindo Januária, foi construindo Maria da Cruz e aí Januária foi mais adiante, foi mais pra frente. Maria da Cruz ficô mais atrasada, o municípi era o de Januária. ´Ntón tudo cá era tudo Januária. Depos eles municipô Maria da Cruz, que é uma cidadezinha, municipô e foi separado de Januária. Januária pelo lado de lá do Rio São Francisco e Maria da Cruz pelo lado de cá. Antes de municipá, o lugar chamava Mangaí, é a divisa de outro municípi. Municípi de São Francisco com Januária. No lá municipá, ficô sendo Maria da Cruz e São Francisco. É um riozinho que corre lá e separa os municípi. Chama Mangaí. Lá deve tê uns quatro, cinco mil habitantes, é muito bem grande lá, cresceu bem.


A PONTE DO LUGAR
Maria da Cruz é do lado de cá do Rio e Januária é do lado de lá, que tem a ponte que ‘travessa. Tá com quatro anos, justamente. Antes tinha as lanchas que ‘travessava os carros, fazia era fila de carros. ‘Travessava de cá pra lá, pro outro lado de lá tinha estrada. Tornava do lado de lá, ficava parado e ‘travessava nas lanchas, lanchona assim, como um navio... fala balsa, né? ‘Nton saía num movimento muito bom, qué dizê, alí muita gente vivia daquilo. Vendia um biscoito, vendia um peixe frito, vendia uma coisa assim, por conta da balsa, era uma beleza. Cê ia lá pra Januária, cê vinha de Januária, a mesma coisa: parava lá e tornava aquela fila de carro, ia entrando, desse jeito. Com a ponte, cabô esses abrigos, vendeu o peixe frito, vendeu essas coisas. Muita família vivia daquilo ali, daquela beira de Rio ali. Agora, passô na ponte e vão ‘mbora pra Januária. Aquele dinheiro que a gente pegava ali cabô. Passa por fora.


A TERRA
Lá tem muito fazendêro. É fazenda pro povo tocá serviço, criá gado, prantá... Tem muito lugar que tem irrigação, pranta lavoura, pranta tudo. Lá eles planta feijão da seca, pranta pranta das água, pranta tomate, faz irrigação, que lá é perto do rio tanto que pode puxá. A água é muito rara. Lá tá fartano é os homens lembrá que precisa trabalhá. Os maior homem, que tem força, que pode tocá serviço, estão mexendo só com criação de gado. Num qué. Segurô a terra, terra boa, terra especial, tem água nesse Rio, no São Francisco e tem a água do Mangaí, que eles podia fazê um grande progresso no lugar. Eles num qué fazê, eles podia é fazê, era quem podia fazê para rendê mais... Eles fala, queixam que é porque diz que vende barato. Que o governo qué que faz... Eles querem dizê assim que o governo qué que eles gasta e tudo, paga imposto e tal num sei quê, num sei quê... Vende mucho baratinho que num dá pra eles tirá. Eles querem dizê que num compensa pagá um impregado.
Para você vê: um funcionário mexendo com a lavoura, mucha lavoura, mexê com um grande serviço de lavoura, gasta muito serviço, mucha gente, né? Para, no final da safra, eles tira é muito poquinho, num dá para eles pagá os imposto e tudo e sobrá para eles, então eles num qué, né. Eles cria é vaca, cria é boi, cria este trêin... cria o bizerrinho curió, soltó lá, dá pouco trabalho... Eles qué é isso. Aprica a injeção nele. Aprica vacina e tudo. Paga um vaqueiro um salário. Paga um tratorista pra limpá as manga, fazê tudo. Quando dá no fim do ano, quanto que ele num tem lá no bolso? Eles qué é isso.
E num tá assuntando que isso está fazendo numa maneira que ... tá morrendo... num morre gente de fome, mas tá rôbando gente, tá matando gente pra robá. Eles num tá assuntando. Num tá lembrando que está fazendo essa ruindade. Mas é isso. Por quê? Quem pode tocá o serviço e mexê, tudo bem. Quem num pode? De quê que ele vai vivê? Ele tá com fome, ele num tá aguentando... tá morrendo de fome, está vendo a criança com fome, qual é o destino dele? Que num tem onde trabalhá. Eles segura a terra, que está com ela segura, o capital deles está seguro, então que é que faz? Eu num posso trabalhá, eu num tenho capital para eu podê enfrentá a roça, eles seguraram a terra lá e num me dá. O que vai fazê com essa criançada toda? Sabe que uma coisa que nóis num dá jeito é nesses fazendeiros.


A FAMÍLIA
Agora você vê, um pai que nem eu, criei meus irmãos, depois que estava criado, eu casei, a mulhé adquiriu quinze filhos. Nóis vive hoje, nóis está com quarenta e cinco anos de casado, tudo criado esses filhos, o caçulo, o filho único, está com 16 anos, está lá criado. Também comi o pão que o diabo amassô. Trabalhei dia e noite, dia e noite, domingo o dia todo... Para mim nunca teve dia Santo, nunca teve folga. Vim folgá depois que aposentei que eu falei agora num ‘guento mais, num ‘guento mais... tô obrigado a pará.
Era assim: no mês de maio, começava a pôr arroz, a roçá, roçá a roça, adubá... Naquele tempo num tinha negocio de tirá carvão não, era roçá, derrubá o mato, picá e por fogo. Virava um roçadão aí. Aí quando dava o primeiro de outubro, planta primeiro algodão, passava a mamona, as carreira de mamona... porque naquele tempo que nóis mexia, vendia a mamona, que dizia eles que a mamona era pra fazê azeite pra lubrificá os tanques de guerra. Mamona dá muito oleo.
Mais eu já sofri muito, num estudei, num sei lê, num sei escrevê, num sei nada. O negocio é trabalhá. Trabalhá. Mais eu já enfrentei dureza, assim no machado, rachá a madeira... Todo tempo todo. Pensá assim: a pessoa trabalhá tanto, ele num tem nem apetite nem de comê mais, ele num tem força, num tem vontade de comê, acabô demais, esgotô a força, esgotô os nervo, o destino dele arrasô que ele ficasse sem ‘guentá, tremendo assim... Muchas vezes eu ficava assim, tremendo... Tomava uma água de açúcar pra mim guentá trabalhá. Pra num vê meus filhos sofrê fome. Já fiz. Isso já aconteceu muitas vezes. Trabalhá um dia todinho apegando com Deus, ir lá na água, bebia um copo de água e trabalhava limpando roça, pra num vê os filhos sofrê. Isso eu já fiz mutchas e mutchas vezes. O dia amanheceu, o sol estava lá às sete horas, ‘nton tem que trabalhá.


A IGREJA
Tinha sempre a igreja, aonde tinha missa, em tal lugar nóis ia assim, nas casas, nas fazendas. Aí os padres ia lá, dizia uma missa pra mostrá aos meninos, mostrá às pessoas o que era um padre, nóis ia lá, assistia à missa. Era uma festa, mandava batizá um menino, tem um bucado de menino que batizô pra tirá o registro deles, o batistério deles. Tinha no São Francisco e tinha outro de Januária, eu tirei eles em Januária. O padre de Januária, dentro do municípi de Januária, ia dizê uma missa. E outro padre de São Fancisco, dentro do município de São Fancisco... Ia assim, chegava os padres, um dividia prum lado, um dividia pro outro, um padre vinha de cá e outro vinha de cá. Agora hoje não, agora municipô Maria da Cruz, já tem um padre, já mora lá o padre...


AS FESTAS
Tinha um sanfoneiro, tinha um violeiro, tinha mais era violeiro, tocador de violão, tocador de viola. Cantá ô, batia num pandeiro, batia cantando... mas era uma beleza. Era uma coisa mutcho animada, todo mundo gostava, todo mundo tomava um gole, abraçava todo mundo, num tinha briga... Num tinha esse trein que diz que deixa o cara doido, esse tal de maconha, como é que chama? Esse trein num tinha, era um cigarrinho mesmo, esse Liberty, um Astória, Continental... um cigarinho diferente pra gente tomá alí, mais era só isso. Tinha festa nas casas das famílias. Por exemplo: eu sô um pai de famila e queria fazê uma brincadeira, tinha rapaz, tinha moça, vamos fazê uma brincadeira aqui. Nóis chamava fulano, cicrano, tocador de sanfona, ele vinha... Tinha vez que nóis associava, eu pagava uma parte, outro pagava outra, cada um pagava ele a noite pra tocá. Quando um fazendeiro chamava um padre pra rezá uma missa, depois que terminava tudo, que o padre ia embora, eles mesmo fazia festa. Pagava um sanfoneiro e fazia uma festa até o dia nascê, praquele mutirão de gente, aquele povo aí. Mutcho bom. A gente gostava, a gente num tinha outro divertimento.


O GOVERNO
É porque o lugar que nóis morava, o go-verno num sabia daquele lugar. Nóis morava num lugar alongado... um lugar que num tinha estrada. Mas cada um que olha o lugar, arranca pra eles. Chega lá eles come a metade deixa a pobreza aí mais pior... É isso. A razão que o lugar está mais ruim é isso. Que consciência vai em poucas pessoas. Consciência. Consciência tem poucas pessoa.
Eu nunca roubei uma bala doce para dá para um filho meu. Toda essa idade, estô com 67 anos, eu nunca... Se eu dizê a você que eu já roubei um palito de fósforo de uma pessoa para acendê um cigarro, eu estô levantando falso ideal. Nunca fiz isso. Eu já passei fome e precisando das coisas pra num vê meus filhos passá precisando e nem robá. Nunca, nunca, nunca chegô uma noticia assim que: Ah, seu filho apanhô lá em casa...! Não. Pede por esmola. Se num tivé o que comê, a minha opinião é essa, se num tivé, num achô comida, pede por esmola. Me dá uma esmola, eu tô precisando mesmo. Eu sô um Trabalhador Maior mais eu num tenho, eu num tenho nada, estô com fome... me dá?


A TERRA ANTES
Aquelas fazenda naquele tempo que era muito grande, o povo lá: Pode ir lá olhá, pode ir lá trabalhá! Então dava pra gente morada e deixava a gente trabalhando. Tinha fazenda que tinha quarenta a oitenta agregado. Morador. O dono morava lá, as vezes tinha casa na cidade, tinha casa em Belo Horizonte, outros acolá, mas tem a fazenda lá. Tem um encarregado lá que hoje eles chama encarregado, naquele tempo falava é... catapaz, capataz, que é o que resolvia lá pra ele, tocava tudo. A gente é que queria trabalhá, então ninguêm pensava que aquilo ia sê assim. Achô o lugar, morada, está trabahando... Chegava numa fazenda, o dono falava: Olha, a terra está aí, o mato tá aí, cês pode por à vontade e trabalhá! Então quem que ia sabê que este trein amanhã ou depois a gente ia ficá sem terra. Queria trabalhá, todo ano, a roça está aí, põe um põe outro, sempre trabalhando, criando a familha, então ninguém pensava. Quando veio pensá, eles já estava seguro na gente. Eles já estava com a gente seguro. O dono da terra lá, a terra tem que pagá de três um. De três um. De três balai de milho jacá, (você conhece o milho jacá?) dá um pra fazenda. De três caroço de mamona, um é da fazenda. De três capucho de algodão, um é da fazenda. De três espiga de milho, uma é da fazenda. De tudo, de tudo que você conhece tem que dá.


A HISTÓRIA DO CAVALO
O patrão falô comigo: De agora em diante, você vai tê que arranjá um lugar para você criá este cavalo. Ou cê vai criá este cavalo lá na estrada, na Rural-Minas! Lá onde num tinha pasto nenhum, aonde é asfaltado. Que é que eu tinha que fazê? Por isso que eu fui mbora de lá. (Eu num tive questão nenhuma com ele. Eu falei: Olha, tô com quarenta anos que eu moro aqui. Quarenta. Hoje me impus essa condição, eu vô embora. Vô embora lá para a cidade. E eu vô!) Lá num tinha cidade, lá era morada na fazenda. Quando dava o final de semana, eu tinha que tê o cavalo, eu tinha que ir longe, vinte e tantos quilômetros nas vendas, nos armazem, comprá a dispesa pra eu levá pra casa pra tocá o serviço. Tinha que sê no cavalo, tinha que apanhá no cavalo. Tinha vez que vinha de pé puxando o cavalo. Daí esse dono chegô e falô isso comigo. Era um colonião que ficava nesse mundo, eles botava gado, engordava boi, vivia direto assim.. e eu num podia criá o cavalo. Nesse lugar, morava quarenta e tantos agregados, ‘nton eles queria retirá todo mundo para deixá a fazenda e criá boi...


E O HOMEM NÃO FOI À LUA
Eu ouvia falá que tinha esse homem que ia na Lua, que estava indo à Lua, mais eu detesto, toda vida, eu num acredito. Até hoje, num posso acreditá. Sabe o que é que penso? Que esse fogo pode tê rompido naquele rumo e, às vezes, caiu num outro país, que eles ainda num sabia. Chegô num outro lugar. Mas que vai totalmente na Lua, eu num acredido. Até sobre marcá o rumo da Lua e vai no rumo do sol, eu num duvido, que da hora que sai do chão, aí cê vai seguindo um rumo. Cê num larga o rumo certo se tivé parado aqui no chão. Entendeu? Eu estô parado aqui, eu estô vendo aquela caixa ali, eu marco o rumo dessa caixa, mais se eu estô quieto aqui e a Terra está andando... Que nem lá o Sol, vamos por que ela seja o Sol. Se ele está lá no lugar dele e eu estô aqui na Terra parado, a Terra andando, eu é que estô andando. Mas na hora que eu sair do lugar, se eu estô olhando o Sol, justamente, a Terra está andando sozinha e eu estô indo... A Terra num está andando comigo, eu posso marcá, ir lá, mas o Sol vai sair. Com a Lua a mesma coisa. Se o foguete sair daqui no rumo certo, quando chegá lá, a Lua já andô. Assim como a gente num pode enxergá o Sol, que é quente demais, a Lua também deve sê fria demais, ninguém aguenta, congela. Por isso que eu achei que num dá conta de entrá lá. Às vezes pode tê sido, mais eu protesto, pra mim num foi não.
E outra coisa também, porque a Lua ou o Sol, é uma coisa de Deus, que num ficô pra gente descobrir aquele segredo. Às vezes a gente acha que está descobrindo muitcha coisa e num é pra gente sabê. Entendeu o meu dizê? Cê num pode descobrir o quê que é aquele segredo, que é um segredo de Deus.


EPÍLOGO
Muita gente conta muitas histórias, mas eu num aprendi a contá muitas histórias. Eu num acredito em contá histórias você sabe porque que é? Porque eu toda vida tive uma opinião esquisita, que eu detesto mintira. Que eu sô um homem que eu detesto mintira. Se eu te falá: isso é assim, assim e assim, você pode escrevê que eu te dô a certeza. História, é mentira.