29 agosto 2007

Um homem chamado Ken Parker



O italiano Giancarlo Berardi vem ao Festival Internacional de Quadrinhos, em outubro. Alguém pergunta: "E daí? Quem é esse sujeito?" Tem razão. Berardi (infelizmente) não é tão conhecido sequer do público dos quadrinhos.

Bom, Berardi nada mais é do que o criador (juntamente com o desenhista Ivo Millazzo) de um dos personagens mais notáveis da história da HQ: Ken Parker, o anti-herói do faroeste, cujas aventuras foram chamadas certa vez pelo Piero de "western de esquerda".
As histórias de Ken Parker extrapolaram, desde o início, o gênero consagrado pelo cinema americano. Nelas, falou-se de segregação racial, homossexualismo, inclusão social, literatura, teatro... Sem perder de vista, claro, o cerne de uma boa história de western: a Aventura, com direito a duelo, tiroteio, perseguições eletrizantes a cavalo, índios, o Mississipi, o trem de ferro, o assalto à carruagem... Personagens de verdade fizeram parte da história, de Wild Bill Hickock a Buffallo Bill, passando pelo General Custer e por Sitting Bull. Como Corto Maltese (outro ícone da hq italiana), Ken Parker - cuja fisionomia é inspirada em Robert Redford - passeia filosoficamente por nosso mundo, experimentando-o, errando mais do que acertando, em busca de integridade e humanidade, em si próprio e nos que o cercam. Quer herói maior que esse?

A aventura de Ken Parker foi publicada, com interrupções, entre 1977 e 2001 na Itália, em edições mensais, quase sempre pela Bonelli. Sob a justificativa - aceitável - de que era extremamente difícil manter a qualidade de uma história tão longa e com prazos tão apertados, a dupla Berardi-Millazzo decidiu cancelar a série, apesar de aceitar a ajuda de colaboradores ao longo da árdua jornada. Assim, o destino de Ken Parker não teve uma definição, ao menos para nós leitores. No final, Parker, profundamente decepcionado com a sociedade, torna-se um criminoso e um apátrida. Em suas últimas aventuras, o vemos fugindo insistentemente da Justiça, com chances remotas de se redimir.

Por isso, certamente Berardi já tem na ponta da língua a resposta à pergunta que eu lhe farei durante o FIQ: Ken Parker, afinal, termina seus dias como criminoso?

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