A história do Wilson
WILSON MOREIRA: Eu sou de 36, eu sou do subúrbio de Realengo, eu era da Mocidade Independente escola ali de Padre Miguel, vizinha do Realengo. Fui um dos que ajudei na fundação da Mocidade, que era um time de futebol na época, depois formou uma escola de samba com a série de sambistas que tinha ali de Realengo e sambistas de Padre Miguel. Lá tinha a escola de samba Os Três Mosqueteiros, ficava lá no Murundu (Padre Miguel), era uma escola muito boa que desfilava com as grandes naquela época na Praça 11, o Nelson deve saber disso.
WILSON MOREIRA: Eu sou de 36, eu sou do subúrbio de Realengo, eu era da Mocidade Independente escola ali de Padre Miguel, vizinha do Realengo. Fui um dos que ajudei na fundação da Mocidade, que era um time de futebol na época, depois formou uma escola de samba com a série de sambistas que tinha ali de Realengo e sambistas de Padre Miguel. Lá tinha a escola de samba Os Três Mosqueteiros, ficava lá no Murundu (Padre Miguel), era uma escola muito boa que desfilava com as grandes naquela época na Praça 11, o Nelson deve saber disso.
NELSON SARGENTO: Primeiro ano que eles desfilaram ficaram em segundo lugar.
WILSON : Aí a escola, não sei lá qual foi o motivo, pegou fogo numa confusão e a escola acabou. Então essa turma de sambista que tinha lá, alguns foram para a Mocidade, Renatão, Ari de Lima, Seu Dengo que era da Portela e muitos mais, foi onde conheci o Toco de Padre Miguel, aquele grande compositor. Eu era um moleque novo, cresci ali batucando. Primeiro ano meu na Mocidade era na bateria do mestre André. Foi na praça 11 e chegamos lá em primeiro lugar em tudo. Passei para uma ala depois, sai puxando a ala dos boêmios.
WILSON : Aí a escola, não sei lá qual foi o motivo, pegou fogo numa confusão e a escola acabou. Então essa turma de sambista que tinha lá, alguns foram para a Mocidade, Renatão, Ari de Lima, Seu Dengo que era da Portela e muitos mais, foi onde conheci o Toco de Padre Miguel, aquele grande compositor. Eu era um moleque novo, cresci ali batucando. Primeiro ano meu na Mocidade era na bateria do mestre André. Foi na praça 11 e chegamos lá em primeiro lugar em tudo. Passei para uma ala depois, sai puxando a ala dos boêmios.
Já tinha minhas músicas na mente, mas tinha vergonha de mostrar, era difícil a gente mostrar música, era um respeito danado. Me perguntava, “será que eu fiz alguma bobagem?” O primeiro cara que olhou minha música e falou que eu podia mostrar sem medo foi o Paulo Brasão. Eu vim pela Mocidade coisa e tal, quando chegou 68, foi quando eu sai da Mocidade. Os sambistas saiam da cidade e iam para lá assistir aos ensaios. E via a gente cantando, eu tinha lá meus sambas de terreiro, o terreiro era uma coisa de louco. Sabe quem gravou um samba de terreiro meu? Leny Andrade. Ela ia fazer um disco com sambista de escola de samba, numa ocasião na década de 70, e o produtor dela, que era o João de Aquino, me chamou e disse: Moreira mostra um samba teu da Mocidade. Ai mostrei né. Ela gravou dois sambas meus, um de terreiro e outro com um parceiro que eu tinha lá, chamava-se Josan, um samba muito bonito. Em 68, Seu Natal já tinha me convidado para ir a Portela. Ai encontrei um amigo: “Ô Wilson, vou à Portela, sou diretor lá tenho que tá na reunião”. Ai eu disse: “Vou até lá contigo”. Chegou lá na reunião, me receberam de pé, a diretoria toda. Me agradei. Aí Seu Natal, presidente de honra, falou assim: "Esse é o garoto que eu falei lá de Padre Miguel". Depois falou: "O garoto vai assistir à reunião dos compositores, ai fui, o Picolino era o presidente: “O Wilson Moreira tudo bem, veio assistir à nossa reunião”. E eu: “Olha, pelo que eu tô vendo, vou ficar com vocês”. “Ah! pra gente é um prazer”.
Com Ari do cavaco, Jair do Cavaquinho, Casquinha, tudo mundo lá. Mas nessa época eu já conhecia os sambistas quase todos, o Nelson Sargento, é um camarada que já conhecia a muitos anos, a gente viajou muito, fazendo show com o Zuza Homem de Melo em SP, lá na...
NELSON : Record
WILSON : É os caras cara vinham aqui, gostavam das coisas que a gente fazia e levava lá para SP, no Anhembi. Eu já conhecia o Nelson da época do Rosa de Ouro, eu ficava olhando assim com medo de chegar perto, é aquela historia de chegar... , não é que nem muita rapaziada de hoje que chega e vai chegando.
Com Ari do cavaco, Jair do Cavaquinho, Casquinha, tudo mundo lá. Mas nessa época eu já conhecia os sambistas quase todos, o Nelson Sargento, é um camarada que já conhecia a muitos anos, a gente viajou muito, fazendo show com o Zuza Homem de Melo em SP, lá na...
NELSON : Record
WILSON : É os caras cara vinham aqui, gostavam das coisas que a gente fazia e levava lá para SP, no Anhembi. Eu já conhecia o Nelson da época do Rosa de Ouro, eu ficava olhando assim com medo de chegar perto, é aquela historia de chegar... , não é que nem muita rapaziada de hoje que chega e vai chegando.
Primeira gravação
WILSON: Em 72, o Adelzon Alves produziu uma série chamada "Quem Samba Fica". Ele então falou assim: “Moreira eu queria um samba teu que eu gostei e vou colocar na voz de um rapaz lá de Padre Miguel”. O Adelzon Alves é um produtor muito nosso amigo, dá muita força para os sambistas e produziu um disco de um cara, o Edalmo, lá da Mocidade e cantou um samba meu. Aí ele falou assim: ”No próximo, você vai entrar no disco”. Aí eu entrei, em 74. O primeiro foi em 72. Ai ele fez eu, Dona Ivone, Sidnei da Conceição, Casquinha e Flávio Moreira. Estes discos assim ... chamados Pau de Sebo, sempre aparece um ou dois, às vezes até mais. Então neste disco saiu eu e Dona Ivone. A Odeon se prontificou em fazer um disco com a gente, e mais tarde fizeram, primeiro com a Dona Ivone e depois comigo e com o Nei Lopes. Aí eu encontro com Délcio Carvalho na galeria da gravadora Odeon ali na Av. Rio Branco 277, naquela época.
WALTER ALFAIATE: Edifício São Borges.
WILSON : Aí o Délcio falou assim: “Tem um amigo nosso que tá doido para te conhecer, é o Nei Lopes”. O Nei era publicitário. “Ô Nei, vou te apresentar um cara que bota música até em bula de remédio que é o Wilson Moreira”. Aí nós começamos a fazer música. Nesta época eu estava fazendo música com o Candeia e ele ficou meio emburrado comigo: “Poxa rapaz, estava começando um trabalho tão bom, estava pensando que a gente ia dar continuidade a isso!”
Eu sou um cara que não sei dizer não para ninguém, só se o negócio for feio mesmo. O Nei me ofereceu umas parcerias, me mostrou umas letras muito boas, que eu gostei. Aí eu falei: “Candeia não vá se aborrecer comigo”. Mas mesmo assim Candeia e eu continuamos a fazer umas coisas assim devagarinho. Bom, mas tudo, todos esses convites, veio de uma gravação histórica que nós fizemos, chamado Partido em Cinco. Foi eu, Candeia, Velha, Casquinha e Anésio. Esse disco aí chegou nos ouvidos do pessoal de rádio, e, bom, aí tocava toda noite. Minha música tocava, eu fiquei conhecido e quase toda roda de samba que a gente ia, tinha que cantar que as pessoas pediam: “Canta aquela música!”. Bom, foi através desse disco que o Adelzon ficou me conhecendo e me convidou para este negócio todo e de lá para cá eu vim mimbora. E honrando a bandeira da Portela, sem esquecer a Mocidade, que foi onde começou tudo.
WILSON: Em 72, o Adelzon Alves produziu uma série chamada "Quem Samba Fica". Ele então falou assim: “Moreira eu queria um samba teu que eu gostei e vou colocar na voz de um rapaz lá de Padre Miguel”. O Adelzon Alves é um produtor muito nosso amigo, dá muita força para os sambistas e produziu um disco de um cara, o Edalmo, lá da Mocidade e cantou um samba meu. Aí ele falou assim: ”No próximo, você vai entrar no disco”. Aí eu entrei, em 74. O primeiro foi em 72. Ai ele fez eu, Dona Ivone, Sidnei da Conceição, Casquinha e Flávio Moreira. Estes discos assim ... chamados Pau de Sebo, sempre aparece um ou dois, às vezes até mais. Então neste disco saiu eu e Dona Ivone. A Odeon se prontificou em fazer um disco com a gente, e mais tarde fizeram, primeiro com a Dona Ivone e depois comigo e com o Nei Lopes. Aí eu encontro com Délcio Carvalho na galeria da gravadora Odeon ali na Av. Rio Branco 277, naquela época.
WALTER ALFAIATE: Edifício São Borges.
WILSON : Aí o Délcio falou assim: “Tem um amigo nosso que tá doido para te conhecer, é o Nei Lopes”. O Nei era publicitário. “Ô Nei, vou te apresentar um cara que bota música até em bula de remédio que é o Wilson Moreira”. Aí nós começamos a fazer música. Nesta época eu estava fazendo música com o Candeia e ele ficou meio emburrado comigo: “Poxa rapaz, estava começando um trabalho tão bom, estava pensando que a gente ia dar continuidade a isso!”
Eu sou um cara que não sei dizer não para ninguém, só se o negócio for feio mesmo. O Nei me ofereceu umas parcerias, me mostrou umas letras muito boas, que eu gostei. Aí eu falei: “Candeia não vá se aborrecer comigo”. Mas mesmo assim Candeia e eu continuamos a fazer umas coisas assim devagarinho. Bom, mas tudo, todos esses convites, veio de uma gravação histórica que nós fizemos, chamado Partido em Cinco. Foi eu, Candeia, Velha, Casquinha e Anésio. Esse disco aí chegou nos ouvidos do pessoal de rádio, e, bom, aí tocava toda noite. Minha música tocava, eu fiquei conhecido e quase toda roda de samba que a gente ia, tinha que cantar que as pessoas pediam: “Canta aquela música!”. Bom, foi através desse disco que o Adelzon ficou me conhecendo e me convidou para este negócio todo e de lá para cá eu vim mimbora. E honrando a bandeira da Portela, sem esquecer a Mocidade, que foi onde começou tudo.
Três gerações do samba?
NELSON : Duas gerações , eu e o Walter temos a mesma idade.
WALTER: Nãaaaao (risos gerais), são oito anos malandro, oito anos. Quando eu tinha 12, tu tinha 20, tu me dava cascudo, eu nem podia te encarar, agora já fica diferente.
NELSON : Tu tem 70.
WALTER: Eu tenho 68, a geração parte de 10 em 10 anos, já o Wilson não, ele é mais novo. Poxa, quê que há?, são 3 gerações mesmo.
NELSON: Eu penso o seguinte: em cada esquina deste imenso Brasil tem Cartola, tem Nelson Cavaquinho, tem Roberto Carlos, tem Paulo da Portela o difícil é chegar. Se chega num subúrbio deste qualquer, bota uma roda de samba, você escuta um carinha qualquer cantar cada samba que puxa!! É um dos desconhecidos, é um dos que estão aí, são poucos que conseguem chegar. Então eu não vou considerar o WIlson novo, mas tem o Luís Carlos da Vila, tem Sombrinha, tem o Toninho Gerais, Arlindo Cruz, o Zé Luís, o PQD, Marquinho de Oswaldo Cruz, então ainda tem pessoas na nossa linha, chegar o projeção é que é difícil.
Quando fui lá em BH, que eu vi o tamanho daquela casa, eu disse: Essa praça não é minha, que é que eu tô fazendo aqui? Não era a minha praça, aqui que é a minha praça. Às vezes eu já luto para botar uma platéia aqui... Pô, vou em BH, quando eu vi aquela casa transbordando, aí é que me deu mais medo: Pô e agora?. O que acontece é o seguinte: se você investe numa determinada coisa, ela funciona. Se você investir em mim, no Walter, no Wilson, no Nei, maciçamente, nós vamos tomar conta do mercado. Mas não se investe maciçamente em samba. Eu acho que o samba não vai acabar nunca, o samba é a linguagem popular deste país, é a identidade musical deste país, pode esconder, mas não vai derrubar. Por exemplo, a Globo faz um samba Pagode e Cia., pô!!
WALTER; Não tem um de nós lá, único que foi, foi o Martinho da Vila.
NELSON: O Martinho foi porque a Sony impõe.
WALTER: Se você entra em lojas aqui no Rio não tem meu disco. Agora se entra numa Americanas tá lá comé, sinhazinha, não, Tiazinha, cheeeia a prateleira e não tem um Walter Alfaiate, não quer dizer que eu seja ... Mas bem melhor que ela eu sou, cantando, porque da outra forma ela é bem melhor! (risos)
NELSON: Estava na hora agora destes produtores armar um projeto e levar pra Bandeirantes, levar pro SBT, se você levar um projeto de samba de raiz bem feito eles vão fazer .
NELSON : Duas gerações , eu e o Walter temos a mesma idade.
WALTER: Nãaaaao (risos gerais), são oito anos malandro, oito anos. Quando eu tinha 12, tu tinha 20, tu me dava cascudo, eu nem podia te encarar, agora já fica diferente.
NELSON : Tu tem 70.
WALTER: Eu tenho 68, a geração parte de 10 em 10 anos, já o Wilson não, ele é mais novo. Poxa, quê que há?, são 3 gerações mesmo.
NELSON: Eu penso o seguinte: em cada esquina deste imenso Brasil tem Cartola, tem Nelson Cavaquinho, tem Roberto Carlos, tem Paulo da Portela o difícil é chegar. Se chega num subúrbio deste qualquer, bota uma roda de samba, você escuta um carinha qualquer cantar cada samba que puxa!! É um dos desconhecidos, é um dos que estão aí, são poucos que conseguem chegar. Então eu não vou considerar o WIlson novo, mas tem o Luís Carlos da Vila, tem Sombrinha, tem o Toninho Gerais, Arlindo Cruz, o Zé Luís, o PQD, Marquinho de Oswaldo Cruz, então ainda tem pessoas na nossa linha, chegar o projeção é que é difícil.
Quando fui lá em BH, que eu vi o tamanho daquela casa, eu disse: Essa praça não é minha, que é que eu tô fazendo aqui? Não era a minha praça, aqui que é a minha praça. Às vezes eu já luto para botar uma platéia aqui... Pô, vou em BH, quando eu vi aquela casa transbordando, aí é que me deu mais medo: Pô e agora?. O que acontece é o seguinte: se você investe numa determinada coisa, ela funciona. Se você investir em mim, no Walter, no Wilson, no Nei, maciçamente, nós vamos tomar conta do mercado. Mas não se investe maciçamente em samba. Eu acho que o samba não vai acabar nunca, o samba é a linguagem popular deste país, é a identidade musical deste país, pode esconder, mas não vai derrubar. Por exemplo, a Globo faz um samba Pagode e Cia., pô!!
WALTER; Não tem um de nós lá, único que foi, foi o Martinho da Vila.
NELSON: O Martinho foi porque a Sony impõe.
WALTER: Se você entra em lojas aqui no Rio não tem meu disco. Agora se entra numa Americanas tá lá comé, sinhazinha, não, Tiazinha, cheeeia a prateleira e não tem um Walter Alfaiate, não quer dizer que eu seja ... Mas bem melhor que ela eu sou, cantando, porque da outra forma ela é bem melhor! (risos)
NELSON: Estava na hora agora destes produtores armar um projeto e levar pra Bandeirantes, levar pro SBT, se você levar um projeto de samba de raiz bem feito eles vão fazer .
NELSON: Quando eu conheci o Walter não sabia que ele era sambista Quando eu o conheci ele tinha uma alfaiataria na Lapa. Ainda levei umas roupas pra você reformar e você nunca me devolveu as porra da roupa, mas eu também não fui buscar. A outra vez que tive conhecimento com o Walter, quando a gente tinha os Cinco Crioulos, que o Mauro entrou que eu comecei a frequentar os Foliões de Botafogo, inclusive uma vez até saimos na frente né.
WALTER: Neste ano ganhamos o carnaval , saiu todo mundo, a maior ala de compositores de todos os tempos.
WALTER: Neste ano ganhamos o carnaval , saiu todo mundo, a maior ala de compositores de todos os tempos.
A PORRA DO ECAD
NELSON: É complicado. Eu já tentei saber como é essa pontuação que eles fazem da execução, ninguém sabe dizer, nem o editor, nem o dono, nem ninguém. É um ponto, esse mesmo ponto vale três reais. Na hora que você vai lá ver... Você tem o caso do Wilson, que tem mais de cinco sucessos, vai lá e cada música contou um ponto. É três merréis o ponto, por cinco sucessos: 15 merréis. Quer dizer, é um negócio que você não sabe. O Ecad é feito pelas gravadoras e pelos editores, eles é que são o Ecad. Na realidade, o que é direito de autor? Direito de autor é a vendagem do disco e a execução da música. Direito do disco o que é? É 8,4% sobre o preço de custo dividido pelo números de faixas do disco. Essa é a matemática e essa é universal. Agora com a gravadora você tem o direito de intérprete, você pode assinar 12%, pode assinar 15%, nunca menos de 8%. A execução da música, que é o outro direito de autor. Quantas vezes toca, é quantas vezes você recebe. Agora como é que eu vou saber, eu, o Wilson, o Walter, se a nossa música está tocando no Acre, no Amazonas, no Piauí, no Maranhão. Não tem como saber. Porquê? Porque nem todo estado da federação você tem o Ecad arrecadando. Tem lugares aí que o direito não passa por lá. Você tem muitas emissoras no Norte e no Nordeste que são de deputados e de senador e esses caras não pagam mesmo. Não adianta você botar a lei em cima deles que eles têm imunidade. Então fica difícil, isso na parte de execução de música. E a fábrica, quando a fábrica diz que você vendeu um milhão de cópias, você vendeu dois. O disco não é numerado. Então você vendeu um milhão e até logo. Você imagina um cara como Xuxa, Roberto, que bate mais de dois milhões. Quando a fábrica publica que vendeu dois milhões, adeus, vendeu muito mais. Mas não há como cobrar. O que é que precisa fazer? Pra defender o autor tem que numerar o disco e gravadora nenhuma vai numerar o disco. Isso depende de uma lei. Os produtores fonográficos vão lá e dizem assim: Uma casa lá em Sepetiba doutor, com todo conforto pra votar nisso aqui. Vai se importar com isso? Execução é o seguinte. Antigamente, na década de 40, a rádio mandava para a sociedade o que tocou, não tinha o Ecad. Mandava mensalmente o que tocou e a grana. Quando veio o Ecad, eles fizeram um sistema de escuta. Vai escutar 24 horas todo o Brasil?
WALTER: É ruim pra caramba.
NELSON: O Ecad é ladrão? Não, o Ecad não é ladrão. Você não pode chamar de ladrão porque você não pode provar que os caras são ladrões. Mas se sabe perfeitamente que nessa mutreta toda há desvio de dinheiro. Você não pode provar. Como eu vou saber que nossas músicas estão sendo tocadas agora no Maranhão? Se tiver, não vai constar, não vai receber. Pode até estar, mas não vai receber. Porquê? Porque o sistema de amostragem é falho. Mas as televisões têm que dar 3% do faturamento bruto para o Ecad. O Marinho diz que não dá porque ele sabe que não vai chegar na mão do autor.
WALTER: Se chegasse na mão do autor, tudo bem.
NELSON: Que há desvio e dinheiro há, você não tem o poder de controlar. Você tem um editor. Por exemplo, o que acontece com o disco? É um direito fonomecânico. Eu editei uma música, tem uma parte aí que é do editor. Aí a fábrica pega e paga pra ele e ele me paga. Quando a fábrica paga pra ele, já paga fraudado e ele me paga mais fraudado ainda. Não há nada que eu possa fazer. O editor é obrigado a receber o que a fábrica paga.
WILSON: Deve acontecer a mesma coisa com vocês. Recebo direito da Dinamarca, Holanda, mas é uma coisa, que se eu mostrar as pessoas, nego fica até embasbacado.
NELSON: O Monarco recebeu do exterior 70 centavos. Um amigo nosso falou assim: “Poxa, eu vi teu samba num daqueles CD-Rom da Microsoft”. Aí ele levou o CD lá em casa e tocou o “Agoniza Mas Não Morre”, tocou a gravação que eu fiz na Kuarup, movi uma ação, ai eu peguei tudo que tem “Agoniza Mas Não Morre”, contrato de edição, não sei lá mais o que, e mandei para o advogado. Isso tem uns quatro meses, ele me respondeu o seguinte: que a microsoft mandou dizer que desconhece e não editou nada, então é pirata, se é pirata eu vou ter que correr atrás, então fui na editora, e ela também entrou com o processo, mas o meu processo está correndo por lá e o da editora está correndo por aqui, então a editora precisa de um intermediário lá para dar andamento. Mas tem mais um detalhe, a editora te cobra quando ela recebe do exterior, tira 50%. Se recebe 10 mirreis, ela te dá cinco.
NOITE
WILSON: Eu sinceramente nunca fui um cara, nunca acompanhei as pessoas em bebida Mas eu tenho saudade dos tempos da boêmia porque conheci vários boêmios, como Nelson Cavaquinho, eu conheci ali na taberna da Glória, aquilo ali era tão bonito, eu conheci o Alife.
NELSON: Se lembra do Brick, aquele navio que ficava lá no Botafogo? Chamava Brick da Folia, a Mangueira fez muitos bailes ali.
NELSON: A zona sul era um negócio sensacional, as gafieiras Dragão, Eldorado, o Elite do Méier, Tupi.
WALTER : Você conheceu o Laje? No Botafogo esquina de São Clemente
NELSON: Tinha o Fogão no Engenho Novo. Sabe porque que chamava Fogão? Porque só frequentava cozinheiro, tinha um na praça Sans Pena onde hoje é o correio.
WALTER: O Catuca.
NELSON: Era tudo sobrado.
WILSON: Sabe quê que eu fazia naquela época? A gente trabalhava e roupa era muito manjada. Então eu tinha um terno e ai se eu fosse na gafieira hoje com aquele terno e fosse amanhã ou semana que vem com o mesmo terno. As meninas chamavam a gente de canarinho de uma muda só. Aí a Ducal lançou o paletó esporte, lembra disso? aberto atrás.
NELSON: Paletó com duas calças
WILSON: É, paletó com duas calças. E eu comprei uma calça de mescla e um paletó cor de abóbora. Aí eu fui, quando eu cheguei, eu ia no Vitória Danças, ali na rua do Rezende, e quando a gente tava com a roupa manjada aqui neste baile a gente ia lá para Niterói, no Manacá.
WALTER: Depois eles começaram a chamar o cara que ia com o paletó de uma cor e a calça de outra de Caneta Parker
NELSON: Caneta Parker ou saia e blusa.
WILSON: Na Bambina tinha um baile bom ali também, Amante?
WALTER: Amante era na rua da passagem, ali era o Abrantes.
NELSON: E os famosos piqueniques do Samuel? Lá na ilha de Paquetá. 1º de maio e 15 de novembro. Dia 1º de maio não arrumava nada que era dia de piquenique. Foi o Lacerda que acabou com o troço lá. A primeira barca saia às 7h da manha, já ia festa, bebida, gente. Naquela época eu passeava às segundas-feiras, não passeava domingo. Domingo estava tudo mundo passeando e ficava assim, eu só ia para Paquetá na segunda feira.
WILSON: Eu sinceramente nunca fui um cara, nunca acompanhei as pessoas em bebida Mas eu tenho saudade dos tempos da boêmia porque conheci vários boêmios, como Nelson Cavaquinho, eu conheci ali na taberna da Glória, aquilo ali era tão bonito, eu conheci o Alife.
NELSON: Se lembra do Brick, aquele navio que ficava lá no Botafogo? Chamava Brick da Folia, a Mangueira fez muitos bailes ali.
NELSON: A zona sul era um negócio sensacional, as gafieiras Dragão, Eldorado, o Elite do Méier, Tupi.
WALTER : Você conheceu o Laje? No Botafogo esquina de São Clemente
NELSON: Tinha o Fogão no Engenho Novo. Sabe porque que chamava Fogão? Porque só frequentava cozinheiro, tinha um na praça Sans Pena onde hoje é o correio.
WALTER: O Catuca.
NELSON: Era tudo sobrado.
WILSON: Sabe quê que eu fazia naquela época? A gente trabalhava e roupa era muito manjada. Então eu tinha um terno e ai se eu fosse na gafieira hoje com aquele terno e fosse amanhã ou semana que vem com o mesmo terno. As meninas chamavam a gente de canarinho de uma muda só. Aí a Ducal lançou o paletó esporte, lembra disso? aberto atrás.
NELSON: Paletó com duas calças
WILSON: É, paletó com duas calças. E eu comprei uma calça de mescla e um paletó cor de abóbora. Aí eu fui, quando eu cheguei, eu ia no Vitória Danças, ali na rua do Rezende, e quando a gente tava com a roupa manjada aqui neste baile a gente ia lá para Niterói, no Manacá.
WALTER: Depois eles começaram a chamar o cara que ia com o paletó de uma cor e a calça de outra de Caneta Parker
NELSON: Caneta Parker ou saia e blusa.
WILSON: Na Bambina tinha um baile bom ali também, Amante?
WALTER: Amante era na rua da passagem, ali era o Abrantes.
NELSON: E os famosos piqueniques do Samuel? Lá na ilha de Paquetá. 1º de maio e 15 de novembro. Dia 1º de maio não arrumava nada que era dia de piquenique. Foi o Lacerda que acabou com o troço lá. A primeira barca saia às 7h da manha, já ia festa, bebida, gente. Naquela época eu passeava às segundas-feiras, não passeava domingo. Domingo estava tudo mundo passeando e ficava assim, eu só ia para Paquetá na segunda feira.
WALTER: A banda Portugal , lá na Presidente Vargas.
NELSON: Frequentava muito pouco, frequentei muito as duas cervejarias, uma era a Lusitana e a outra esqueci o nome. Chegava lá, pedia a champanhada e o cara trazia uma cerveja e um pratinho de tremoço, o tremoço era grátis. Se pedia a segunda já não vinha o pratinho, tinha que comprar. Nessa época não tinha a Presidente Vargas, tinha a Senador Euzébio de um lado e a Visconde de Itaúna no outro e tinha o canal no meio .A primeira água mineral que existiu aqui no Rio se chamava Idolitrol, o cara pegava um disco especializado colocava dentro da garrafa e sacudia, era a água mineral da época. Qualquer botequim da cidade se tinha uma redomazinha assim com um copo de água gelada, você chegava bebia um copo d’água gelada e ia embora.
WILSON: Eu andava com uns caras que bebiam muito. Anescar bebia tanto, eu não bebia e ficava andando com os caras. O Silas de Oliveira bebia pra caramba e era muito meu amigo e eu não bebia, o Silas de Oliveira saia lá do Opinião, eu ia lá pro Realengo e ele ia lá pra Madureira, ele falava assim : Ô Wilson, eu sei que você não bebe, mas eu vou ali tomar um negócio, vamos lá , ai eu pra não ficar assim ... pra trás, batida de maçã.
NELSON: Frequentava muito pouco, frequentei muito as duas cervejarias, uma era a Lusitana e a outra esqueci o nome. Chegava lá, pedia a champanhada e o cara trazia uma cerveja e um pratinho de tremoço, o tremoço era grátis. Se pedia a segunda já não vinha o pratinho, tinha que comprar. Nessa época não tinha a Presidente Vargas, tinha a Senador Euzébio de um lado e a Visconde de Itaúna no outro e tinha o canal no meio .A primeira água mineral que existiu aqui no Rio se chamava Idolitrol, o cara pegava um disco especializado colocava dentro da garrafa e sacudia, era a água mineral da época. Qualquer botequim da cidade se tinha uma redomazinha assim com um copo de água gelada, você chegava bebia um copo d’água gelada e ia embora.
WILSON: Eu andava com uns caras que bebiam muito. Anescar bebia tanto, eu não bebia e ficava andando com os caras. O Silas de Oliveira bebia pra caramba e era muito meu amigo e eu não bebia, o Silas de Oliveira saia lá do Opinião, eu ia lá pro Realengo e ele ia lá pra Madureira, ele falava assim : Ô Wilson, eu sei que você não bebe, mas eu vou ali tomar um negócio, vamos lá , ai eu pra não ficar assim ... pra trás, batida de maçã.
A diferença ontem e hoje
NELSON: Não é que antigamente era melhor, o pobre tinha menos vaidade.
WILSON: Menos vaidade, exatamente. Tu comprava dois terno e tava satisfeito.
NELSON: Você passava numa loja e via esta camisa por 10.000 reis, você não podia comprar e não existia prestação, aí você juntava 2000 reis por cinco semanas, se você fosse lá a camisa custava 10.000 reis, tinha uma estabilidade de preço. A vaidade era menor.
WILSON: Olha eu bato palma para essa rapaziada que tem cabeça boa, que dá força em tudo que é atração aí e eu acho que tem de ter muita cabeça pra poder conviver com as coisas, que o negócio é o seguinte: não pode fazer asneiras porque as curtições são muito boas. Eu fui um cara que fez o barco correr sozinho, que meu pai morreu em 45, eu com oito anos de idade, minha mãe era mineirona. Lá em casa, o único sambista sou eu, meus irmãos não são compositores nem nada, negocio deles e dormir cedo, assistir ao futebol. Minha mãe falava assim: “Só o Wilson puxou o pai”. Meu pai foi embora cedo e eu não deixei minha cabeça se perverter. Teve a invasão das coisas de fora de nosso pais muito aqui, americano implantou muita coisa aqui que fez a cabeça da rapaziada, eu acho que a rapaziada não deve deixar se levar.
NELSON: Eu acho o seguinte Wilson: eu, quando me entendi mesmo musicalmente, porque até 1950, 60, eu não tinha uma noção da música do pais, mesmo frequentando Escola de Samba, coisa e tal. Eu não tinha uma noção exata do valor cultural da música popular brasileira, eu comecei a aprender isso quando fui fazer o Rosa de Ouro, em 65. Juntando o que eu vi dali pra frente, com o que eu tinha visto no passado, comecei a fazer uma associação de idéias, porque quando eu conheci o Cartola, eu sabia que ele era importante como compositor mas não sabia que ele era importante num contexto de Brasil, ele, Carlos Cachaça, Geraldo Pereira. As gravadoras tinham de dez a oito sambistas contratados, na Victor, na Odeon, na Phillips, na Columbia, e essas coisas foram diluindo conforme a situação econômica foi piorando. As casas noturnas foram fechando. Olha, eu fiz muito programa do Chacrinha quando eu tava na Excelsior lá em Ipanema. Você já entrava para cantar com o dinheiro no bolso. Ora ele cresceu na audiência, então nego começou a pagar para cantar no programa dele. Degringola as coisas, ele estava pagando para você se apresentar e daqui a pouco ele começa a receber para apresentar você.
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